Quando Carlinhos Brown faz apologia da água mineral: “Bebeu água,
não! Tá com sede, tô! Olha, olha, olha, olha a água mineral” apenas reflete um
costume crescente nas classes média e alta da sociedade brasileira. Mas há
algum fundamento ou propriedade especial que justifique o crescente consumo da
água mineral em detrimento da “torneiral”, fornecida pela concessionária do
serviço público (Agespisa)? Há motivos para não confiar na qualidade da água
que chega às nossas torneiras? E o que pode ser dito sobre a qualidade da água
mineral? O que a Química tem a dizer sobre o assunto?
As águas minerais são as águas provenientes
de fontes naturais ou artificialmente captadas que possuam composição química
ou propriedades físicas distintas das águas comuns. Por este fato a água
mineral ganha pontos em relação à água comum. As fontes de água mineral são
registradas e inspecionadas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral
(DNPM) que concedem autorização para exploração deste recurso natural do subsolo.
A água que chega em nossas torneiras é
captada no rio Parnaíba e passa por diversos processos físicos e químicos de tratamento,
que visam garantir os aspectos estético e sanitário adequados ao consumo
humano, transformando àquela água do
rio em água potável. Ou seja, água que se pode beber sem risco à saúde
humana.
Mas afinal, que água beber? A água ótima para o consumo deve
obedecer a uma série de normas estabelecidas pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, que indicam as concentrações de risco dos metais e outras
espécies presentes na água nocivas para saúde humana. A água potável deve
também estar livre de microorganismos. Aí, torna-se evidente o papel do Químico
na sociedade, pois é ele o profissional capacitado para responder se a água é
ou não indicada para o consumo.
Portanto, seja a água mineral, seja a água
torneiral, ambas deveriam ter a qualidade necessária para o abastecimento e contar
com a fiscalização dos órgãos governamentais para isto. Como a água fornecida
pela Agespisa é mais barata (R$ 0,0014 por litro), em condições normais, esta
seria a escolha racional. Em viagem pelo interior do Piauí nem sempre há água
certificada como potável e, nestes casos, por prudência deveria se utilizar água
mineral.
Mas quem se submete a comprar os garrafões de
20 litros de água mineral (R$ 0,20 por litro) e colocá-los naqueles bebedouros
específicos deve ter um bom motivo para crer mais na água mineral. Água mineral
ou torneiral? Aí vai depender de cada um, pois a água que chega em nossas
torneiras e a água mineral estão sujeitas aos mesmos padrões de potabilidade,
podendo inclusive correr os mesmos riscos de uma fiscalização inadequada. A
água mineral, no entanto, é 140 vezes mais cara que a água torneiral.
Palavras-chave: Água potável,
Controle de qualidade, Saúde pública.
Texto de José Machado Moita Neto, do livro crônicas acadêmicas.