terça-feira, 19 de maio de 2015

Crônicas Acadêmicas: Água mineral.

Quando Carlinhos Brown faz apologia da água mineral: “Bebeu água, não! Tá com sede, tô! Olha, olha, olha, olha a água mineral” apenas reflete um costume crescente nas classes média e alta da sociedade brasileira. Mas há algum fundamento ou propriedade especial que justifique o crescente consumo da água mineral em detrimento da “torneiral”, fornecida pela concessionária do serviço público (Agespisa)? Há motivos para não confiar na qualidade da água que chega às nossas torneiras? E o que pode ser dito sobre a qualidade da água mineral? O que a Química tem a dizer sobre o assunto?
As águas minerais são as águas provenientes de fontes naturais ou artificialmente captadas que possuam composição química ou propriedades físicas distintas das águas comuns. Por este fato a água mineral ganha pontos em relação à água comum. As fontes de água mineral são registradas e inspecionadas pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) que concedem autorização para exploração deste recurso natural do subsolo.
A água que chega em nossas torneiras é captada no rio Parnaíba e passa por diversos processos físicos e químicos de tratamento, que visam garantir os aspectos estético e sanitário adequados ao consumo humano, transformando àquela água do
rio em água potável. Ou seja, água que se pode beber sem risco à saúde humana.
Mas afinal, que água beber? A água ótima para o consumo deve obedecer a uma série de normas estabelecidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que indicam as concentrações de risco dos metais e outras espécies presentes na água nocivas para saúde humana. A água potável deve também estar livre de microorganismos. Aí, torna-se evidente o papel do Químico na sociedade, pois é ele o profissional capacitado para responder se a água é ou não indicada para o consumo.
Portanto, seja a água mineral, seja a água torneiral, ambas deveriam ter a qualidade necessária para o abastecimento e contar com a fiscalização dos órgãos governamentais para isto. Como a água fornecida pela Agespisa é mais barata (R$ 0,0014 por litro), em condições normais, esta seria a escolha racional. Em viagem pelo interior do Piauí nem sempre há água certificada como potável e, nestes casos, por prudência deveria se utilizar água mineral.
Mas quem se submete a comprar os garrafões de 20 litros de água mineral (R$ 0,20 por litro) e colocá-los naqueles bebedouros específicos deve ter um bom motivo para crer mais na água mineral. Água mineral ou torneiral? Aí vai depender de cada um, pois a água que chega em nossas torneiras e a água mineral estão sujeitas aos mesmos padrões de potabilidade, podendo inclusive correr os mesmos riscos de uma fiscalização inadequada. A água mineral, no entanto, é 140 vezes mais cara que a água torneiral.

Palavras-chave: Água potável, Controle de qualidade, Saúde pública.

Texto de José Machado Moita Neto, do livro crônicas acadêmicas.